O dinheiro dos impostos não é igual para todos os portugueses
O Diário Económico foi à rua saber quanto pagam ou recebem de IRS e o que fazem com o dinheiro.
Rogério Meireis preocupa-se pouco com o IRS. Não faz ideia do prazo para entregar a declaração de rendimentos nem está incomodado com o valor a pagar ao fisco. Rogério, que é administrador de uma empresa ligada ao ramo do café, tem apenas uma certeza: se o ano passado teve de desembolsar 3.700 euros, este ano, devido à sobretaxa de 3,5%, o valor destinado às Finanças será maior.
"Devo pagar ainda mais e acredito que para muitos portugueses, que contam com este dinheiro para equilibrar o orçamento, a situação será dramática", diz o administrador ao Económico. Rogério costuma entregar as facturas das despesas à secretária, que depois as envia para um contabilista. "Por isso, confio que estou dentro do prazo legal."
O administrador, de 53 anos, deduz os gastos referentes à habitação, saúde e educação. Tem duas casas para pagar ao banco e, todos os anos, faz um ‘check up' completo. Já as despesas referentes à formação têm um duplo objectivo: diminuir a factura do IRS e, ao mesmo tempo, frequentar outro curso universitário.
"Apesar de já ser licenciado em Gestão decidi tirar outra licenciatura, em Psicologia Clínica, numa Universidade privada. Pago 300 euros mensais", diz. Este ano, os contribuintes ainda podem deduzir 30% das despesas com educação até um limite de 760 euros.
Com um ritmo de trabalho alucinante, de 14 horas por dia, Rogério aproveita todos os tempos livres para ler. "Compro entre 150 a 180 livros por ano. É o meu único vício", conta. E se pudesse incluir as despesas com livros na declaração de impostos? "Isso era fantástico. Mas nem peço tanto. Já ficava satisfeito se não tirassem o que temos agora."
Casal com IRS em Portugal e Espanha
Luís e Susana, na casa dos 30 anos, têm opiniões diferentes sobre o IRS. Ele é técnico de contas numa empresa e sabe que todos os anos tem de perder algum tempo a preencher a declaração de rendimentos. Ela, hospedeira de bordo em Espanha, diz que precisa apenas de abrir uma página da Internet e, em poucos minutos, fica com o assunto resolvido. "Também fico logo a saber quanto vou receber ou pagar e tenho uns dias para contestar os valores no caso de não concordar", diz.
É que o estado espanhol faz a declaração deste imposto para todos os contribuintes que o solicitem (designado rascunho). Depois, o contribuinte pode vê-lo na Internet e confirmá-lo. A seguir, receberá ou será descontado na sua conta. "O ano passado paguei. Não juntei as despesas suficientes", afirma a hospedeira.
Para o técnico de contas a situação é mais trabalhosa. Vai reunindo ao longo do ano as despesas de habitação e saúde e, num dia, ao serão, aproveita para preencher o formulário na Internet. "O ano passado fui reembolsado em 600 euros. Aproveitei esse dinheiro para reforçar a conta poupança", diz ao Económico.
Luís também sabe que em 2013, com a limitação dos tectos para dedução, o reembolso será menor. "Os prejuízos têm de ser distribuídos por todos. Quem ganha mais deve pagar mais e quem ganha menos deve pagar menos", reforça o técnico.
A mediadora de seguros Deolinda Jorge tem em casa uma gaveta cheia de facturas para abater na declaração de impostos, mas ainda não teve coragem de pegar nelas. "Tenho de passar um serão inteiro a organizar os papéis e, pior ainda, como entrego o IRS pela Internet tenho o azar de o sistema poder bloquear", diz ao Económico.
Cinco mil euros de reembolso
De qualquer forma, Deolinda pertence ao grupo dos portugueses com menos razões de queixa no que diz respeito a reembolsos. "O ano passado recebi entre quatro a cinco mil euros. Peguei numa parte desse dinheiro e fui à Disney com o meu filho", lembra.
A mediadora costuma apresentar despesas com educação, saúde e PPR. Com o agravamento da carga fiscal, Deolinda, de 49 anos, traça um cenário negro. E também não sabe se poderá fazer mais viagens à Disney. "Vejo a actual situação do País e estou cada vez mais apreensiva.
Agora, penso sempre duas vezes antes de fazer qualquer despesa", conta. O dinheiro do reembolso do IRS, balão de oxigénio para muitas famílias, começa a ser insuficiente para afastar o receio dos portugueses
Fonte: Diário ECONÓMICO ONLINE
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