quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O Mundo que nos Rodeia: ISCAL, ensino de excelência?




Em todas as universidades onde se pode encontrar o curso de Gestão, os alunos entram (logicamente) com a nota de Matemática do 12º ano. No ISCAL não. Pode ser Português ou Economia.
Assim, quando se comparam médias de entrada entre o mesmo curso em diferentes universidades, estão a ser comparados alhos com bugalhos.
E o mais grave é que é isso que torna o curso atractivo. Se formos ver aos fóruns, quem vai para esse curso são precisamente aqueles que não tiveram Matemática no 12º ano. Porque quem teve prefere ir para universidades de Gestão e com renome nessa área científica (leia-se Católica, ISCTE, ISEG, NOVA, etc.)
A questão é, então, tentar perceber o que leva uma instituição a criar um curso nessas condições. Para isso, é necessário recuar alguns anos para perceber o que se passou no ISCAL até à criação deste curso (ano de 2006).


- Nos anos de 2002 a 2005, o número de alunos que entravam no curso de Contabilidade (especialidade do ISCAL, e é de onde vem o nome do instituto) sofria quedas na ordem dos 80%. Na altura havia cento e tal vagas e só conseguiam preencher 30 vagas (no máximo) e nas duas fases.



- Na altura, cerca de 2/3 dos professores do ISCAL vivia à custa de contratos a termo, renovamos anualmente ou de 2 em 2 anos, sem fazerem parte dos quadros e, portanto, sem vínculo efectivo à instituição. Isto significava que a redução do número de alunos estava a por em risco 67% dos professores, que, por não terem contrato a tempo indeterminado, seriam despedidos sem direito ao fundo de desemprego.



A solução seria criar um curso que fosse apelativo com os recursos que se encontravam disponíveis, ou seja, criar um curso que chamasse a atenção dos candidatos e, se possível, que os retivesse o maior número de anos possível. O curso criado era em tudo o curso de Contabilidade já leccionado, mas agora com o nome de Gestão. E falta acrescentar que o plano curricular apresentado ao Ministério do Ensino Superior foi chumbado 2 vezes por se encontrar desajustado aos restantes cursos de Gestão do país. A aprovação foi conseguida com o argumento de que este curso não traria as mesmas valências e que seria ministrado a alunos mais fracos, que só queriam ter o curso como complemento profissional (por essa razão é que é dos poucos que é leccionado em horário pós-laboral).
Portanto, a ideia seria receber o maior número de alunos possível e depois chutar-lhes com o máximo de Matemática e Contabilidade possível de modo a que tivessem garantidas as necessidades de professores e ainda lhes desse um grande volume de receitas resultantes do pagamento de propinas. (Outra curiosidade é que as propinas do curso de Gestão, no ano de criação do curso, estavam quase a preço de saldo, nada comparáveis com o resto do ensino superior. Uma vez mais para se tornar apelativo. Só depois começaram a subir. Cliente conquistado, deixa de ter interesse).
Nestas situações, são muito hábeis a manipular o sistema e a enganar quem se quiser deixar enganar.
Em 2010 saiu uma nova lei para regulamentar a carreira docente no Ensino Superior. Como resultado dessa lei, os professores que ainda não têm doutoramento têm um prazo máximo de 6 anos para tirar o doutoramento e poder continuar a dar aulas. Caso contrário, são despedidos.
A realidade do ISCAL é que apenas 11% dos professores têm doutoramento, enquanto que nas universidades TEM DE SER de 100% (caso contrário, são professores do secundário e não do superior). Só por aqui se vê o nível de excelência.
Neste momento, como os professores do ISCAL estão cheios de alunos (devido às medidas que já referi em cima), os 6 anos para fazer o doutoramento começam a parecer reduzidos. Lembraram-se, então, de recrutar professores para assegurar as aulas daqueles que se teriam de focar em fazer o doutoramento. E o mais engraçado é que estão a exigir que essas pessoas já tenham doutoramento e dizem-lhes que ao fim de 2-3 anos já não precisam dos seus serviços. Quer isto dizer, que toda a vida houve uma maioria de licenciados a ensinar licenciados e agora só admitem “estagiários” altamente qualificados (com doutoramento ou pós-doutoramento).
É ridículo…

É este um ensino de excelência?



Artigo retirado de um fórum da Internet em 13 de Setembro de 2010, em cumprimento da  Lei de Defesa de dados, não divulgo o nome da pessoa, mas muito
mais comentários existem sobre este Instituto, nada abonatórios.

1 comentário: