Que futuro reserva para si?
No final do Guião e para consolidar toda a informação já obtida, falou-se do futuro, o que pensam do futuro, o que se pretendem fazer no futuro, o que pensam ainda realizar os entrevistados. Era importante perceber se o álcool tinha tido apenas consequências no passado e no presente dos indivíduos, ou também tinha retirado aos indivíduos o”sonho” de viverem e construírem algo de positivo. Embora se utilizassem quatro questões, as mesmas poderiam funcionar como um bloco, pois o que se pretendia saber, era o que queriam fazer daqui em diante, quais as perspectivas no futuro. Ora vejamos:
“Portanto quanto ao futuro, é assim, tenho o meu restaurante, não é grande, mas vai dando para viver, mas mentia se lhe dissesse que estou satisfeito, o ser humano quer sempre mais. Por isso gostava muito de ter uma coisa maior, embora saiba que quanto maior for, mas dificuldades para gerir é, mas gostava. Também gostava de mudar de casa, porque a casa onde vivo, é uma casa, numa quintinha, que é do meu pai e do meu tio, e é daquelas casas muito velhas, parece mais uma barraca, por isso gostaria de ter uma casa com todas as condições, para mim e para a minha mulher e o meu filho.”
(Entrevista Nº 8)
“Voltar a ter uma família, ter a minha casa, de ter um emprego, porque eu gosto muito de ter a minha independência, toda a gente gosta de ter a sua independência, que reconstruir a minha vida, mas em bases bem sólidas.”
(Entrevista Nº 6)
“Eu gostava ainda de ter um filho, ter a minha família, ter um companheiro, ter um filho, ainda estou a ver se arranjo força para tirar o curso que eu sempre quis ir, eu deixei economia, porque não gostava de economia, ou seja, na minha vida parece que deixei tudo por metade, então queria concretizar aquelas metas, queria ir para psicologia,…”
(Entrevista Nº 7)
Excepto o entrevistado, que ainda continua a consumir, todos os outros demonstraram grande força de vontade para realizarem os seus “sonhos”, uns mais modestos, como aprender a viver de novo com o marido, outros mais ambiciosos, como escrever um livro, no entanto todos demonstraram uma coisa, álcool nunca mais, há excepção de um, conforme já salientado.
Conclusões
Pretendeu-se com este trabalho consolidar todos os conhecimentos adquiridos ao longo de vários anos de trabalho e dedicação, neste tão grato curso de Sociologia. Não pretendo contudo terminar sem que este capítulo reúna uma série de conclusões relacionadas com o objectivo desta análise, a sua problemática e as respectivas hipóteses em estudo. Há que compreender porque se começa a consumir bebidas alcoólicas, primeiro com regularidade, depois com dependência, até terminar muitas vezes numa luta desenfreada indivíduo/álcool, que tantas e tantas mazelas vai deixando pelo caminho.
Após a operacionalização da nossa questão inicial (questão central), esta foi subdividida em outras questões (questões secundárias) de forma a flexibilizar a nossa investigação e adaptá-la à realidade do estudo.
Após essa operacionalização construiu-se uma bateria de hipóteses (A principal e secundárias) para agora e após a análise de conteúdo das entrevistas estudá-las e compreendê-las.
Começando pelas hipóteses secundárias, tínhamos como primeira hipótese em estudo: A falta de emprego e as dificuldades económicas conduzem os indivíduos a refugiarem-se no consumo de álcool, de forma a não enfrentarem a realidade da sua situação.
Segundo as análises verificadas, esta afirmação não se retratou em nenhuma das entrevistas obtidas. Aliás a falta de dinheiro pode, antes, ser impeditivo de consumir álcool, pois não havendo hipóteses monetárias de o comprar, o mesmo só poder ser feito através de empréstimos de amigos e/ou familiares. Alguns entrevistados, dizem terem recorrido aos empréstimos de alguns amigos para conseguirem consumir álcool, empréstimos ou pagamento das bebidas pelos próprios amigos. (Entrevista Nº 1 e 4).
A segunda questão em estudo era a seguinte: As dificuldades familiares e a própria negligência perante a família, são factores que desencadeiam a busca abusiva de álcool.
O que se compreendeu na maioria das entrevistas, é que esta hipótese surgia quase sempre, depois dos indivíduos se tornarem consumidores excessivos de álcool e nunca antes (Entrevista Nº 4, 5 e 6), ou seja, era o consumo excessivo de álcool que causava os problemas domésticos, chegando por vezes à violência doméstica (Entrevista Nº3), ou aos divórcios (Entrevista Nº 9) como foi o caso do último entrevistado. Houve pelo menos duas situações em que o facto de acontecer o casamento foi unicamente para haver mais liberdade e portanto mais facilidade no consumo de álcool, outrora restringido pelos pais. (Entrevista Nº 3 e 9). Em suma, esta segunda questão também não se enquadra no nosso estudo.
Passando para a terceira questão em análise, esta diz, A perda de velhos amigos, pode levar ao consumo excessivo de álcool, como forma de “esquecerem temporariamente” o assunto.
Nesta hipótese há a considerar esta perda de amigos mais abrangente, ou seja, deveríamos aqui incluir também os familiares. Neste caso a entrevista nº 1, corrobora esta ideia, pois é afirmado que um dos factores que contribuiu (não foi o único factor) para o consumo excessivo de álcool foi a ausência de familiares e amigos. Existe um segundo caso (Entrevistado Nº 7), que não foi propriamente os amigos, mas sim o seu processo de divórcio, portanto perda do marido, que lhe levou numa primeira fase a consumir mais álcool, ou seja, a perspectiva de ficar sozinha causava-lhe mal-estar e necessidade de se refugiar no álcool.
Finalmente a quarta questão em estudo, dizia, Os factores sócio culturais são muitas vezes uma forma do consumo de álcool se tornar banal, levando ao consumo excessivo do mesmo.
Esta hipótese tem realmente alguma consistência, pois os nossos entrevistados apresentaram algumas práticas que consolidavam esta ideia dos factores sócio culturais. Primeiro e isto foi focado por muitos, os factores culturais inerentes a Portugal ser um país produtor de grande dimensão (Entrevista Nº 5 e 7), por isso o acesso muito fácil ao vinho, principalmente. Depois também o facto do convívio, dos amigos, das festas, serem motivadores para o consumo de álcool, alguns entrevistados falaram mesmo que um dos principais motivos do consumo em excesso, era porque isso acontecia na companhia de vários amigos, nas conversas de café e nos serões em casa, ou passeando pela noite fora (Entrevista Nº 2 e 9). Esta hipótese parece estabelecer um mecanismo social evidente do aumento de consumidores de álcool, se juntarmos a todos estes factores, as discotecas, os jantares e as festas mais privadas, estamos perante uma série de factores sócio-culturais e ambientais para o aumento do consumo de álcool.
Estamos finalmente perante a nossa questão principal, O consumo excessivo de álcool é o resultado das dificuldades que o indivíduo se vê confrontado no seu dia a dia e nas relações estabelecidas ao nível de grupos, círculos de amigos.
Objectivando esta questão ao conjunto das nossas nove entrevistas, verifica-se efectivamente um conjunto de situações que levaram os indivíduos a tornarem-se consumidores excessivos de álcool, e mesmo aquele caso (Entrevista Nº 6) que afirma não encontrar razão aparente para ser um consumidor abusivo de álcool, algumas circunstâncias aconteceram, nomeadamente a pressão exercida quando tocava numa banda, para que o fizesse. Em dois outros casos, (Entrevista Nº 2 e 9) esse consumo excessivo de álcool, aconteceu ao nível do círculo de amigos, com quem conviviam e bebiam. Os restantes apresentaram sempre uma dificuldade com que foram confrontados e motivou-os a consumirem álcool em excesso. Para a nossa hipótese central existem, sem dúvida, situações em todos os entrevistados que se poderão enquadrar e validar a mesma. Extrapolando estes resultados, para a nossa questão central, Quais os principais motivos que levam os indivíduos a tornarem-se consumidores de álcool? Poderíamos enumerar uma série deles para responder a esta questão, ausência de família, stress na tropa, vida boémia com muito dinheiro e rodeado de amigos, tratar de uma pessoa desconhecida, pressão emocional, divórcio, troca de droga pelo álcool, divertimento e amigos.
Com base nestas ilações, este trabalho contribuiu certamente para:
Identificar, compreender e descrever o percurso de vida que leva os indivíduos a tornarem-se consumidores excessivos de álcool, levando-os a situações de exclusão social e afastamento perante a sociedade.
Identificar, compreender e descrever o percurso de vida que leva os indivíduos a tornarem-se consumidores excessivos de álcool, levando-os a situações de exclusão social e afastamento perante a sociedade.
Tendo perfeita noção que este trabalho é um trabalho académico, é com grande entusiasmo que vejo nele uma ferramenta, exploratória para futuras pesquisas nesta área que muitas vezes é descorada, a favor de outros objectivos e outra dependências, mas não nos podemos esquecer, e isto são números reais e que estão disponíveis, é que em Portugal morrem diariamente cerca de vinte a vinte e cinco pessoas, directa ou indirectamente, por causa do álcool. A sociologia tem aqui uma palavra a dizer, até porque nesta área e em Portugal existem muito poucos trabalhos com a perspectiva sociológica sobre o consumo excessivo de álcool, e como tal espero que este não seja, o último, mas … mais um.
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