quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A Minha Tese: Percursos e Representações sobre o Consumo Excessivo de Álcool: Um Estudo Exploratório na Grande Área de Lisboa - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO


Casa de Saúde do Telhal






A Casa de Saúde do Telhal, foi fundada em 1893 e, pertence à Província Portuguesa da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus, dependendo jurídica e administrativamente do Instituto S. João de Deus, instituição particular de solidariedade social.
Não contando exaustivamente a sua história, procurarei fazê-lo de uma forma que permita dar conta dos principais momentos nela vividos.
A Ordem Hospitaleira, espalhada pelo mundo, sofreu um forte abalo, aquando das convulsões políticas do séc. XIX, tendo mesmo chegado a ser extinta na Península Ibérica.
Foi restaurada poucas décadas depois, ainda no mesmo século, tendo sido, então o seu principal obreiro o Padre Bento Menni, já canonizado, a quem são atribuídos actos de verdadeiro heroísmo.
Foi ele que, em 1893, fundou a Casa de Saúde do Telhal, tendo sofrido fortes perseguições e sido alvo de violentas calúnias.
Já que os doentes mentais eram pessoas com fortes carências, Bento Menni, ao comprar a Quinta do Telhal, propôs-se fundar, para eles, uma Casa de Saúde.
A escritura da propriedade, situada a cerca de vinte cinco quilómetros de Lisboa, foi assinada no dia 29 de Junho de 1893, tendo esta sido adquirida à família Van Zeller que, ao saber dos fins a que se destinava, facilitou significativamente o pagamento inicialmente proposto.
O desenvolvimento do Telhal foi lento e desgastante. Muitas vezes foi necessário pedir esmolas para assegurarem a sua manutenção, devido à escassez dos recursos, então existentes.
Os doentes começaram a ser assistidos gratuitamente e só mais tarde foram admitidos alguns pensionistas, tendo a comparticipação destes permitido prestar maior e melhor ajuda.
Aquando da implantação da República, o Telhal, tal como as outras casas religiosas, sofreram um forte abalo, no entanto a prudente actuação do seu fundador e a visita do Dr. Afonso Costa, Ministro da Justiça que, ao encontrar internado e fortemente perturbado um ex–colega da Universidade, se impressionou fortemente, mudando a sua actuação perante a Ordem, contribuindo para a sua continuidade e desenvolvimento, apesar dos condicionalismos ainda impostos.
Entretanto, o Governo que tantos problemas criara, veio mais tarde, solicitar os seus serviços, para que prestassem assistência aos militares vindos da guerra de 1914-18, em que Portugal se viu envolvido, regressados de França mentalmente perturbados, devido aos gases usados pelas forças alemães.
As pensões que o Governo pagava pelos militares internados e algumas economias, permitiram fazer novas construções, nomeadamente o Pavilhão S. José que, para a época, por volta de 1918, tinha instalações modelares, tendo sido considerado o melhor serviço da Europa para pessoas com doença mental.
O número de internados continuava a aumentar e a Casa de Saúde do Telhal foi assumindo o aspecto de uma pequena povoação, com algumas construções, ruas e jardins. Os doentes, já devidamente agrupados de acordo com os seus quadros psicopatológicos, habitavam os edifícios como se vivessem em grandes casas de campo agradáveis e arejadas.
A evolução terapêutica, na Casa de Saúde do Telhal foi, desde cedo, marcada pela preocupação de reabilitar os doentes para a vida social através do trabalho. Desta forma se esbateram muitos acessos de agitação psicomotora, sendo o trabalho industrial e agrícola, um dos meios encontrados mais valiosos.
Mas o Telhal não foi sempre e só uma instituição psiquiátrica. Teve clínica cirúrgica com vinte camas, construída entre 1953 e 1954, e Escola de Enfermagem, criada em 1936. Estas áreas de actuação, pelo prestígio que tiveram, também contribuíram para o notabilizar.
A população assistida em serviços de internamento, vai desde pessoas com doença mental aguda até doentes alcoólicos.
A sua lotação é de 430 camas, e tem consultas externas de várias especialidades, nomeadamente:
ü  Psiquiatria
ü  Alcoologia
ü  Neurologia
ü  Clínica Geral
ü  Medicina Dentária
ü  Oftalmologia
ü  Psicologia e avaliação psicológica
ü  Psicoterapia
ü  Terapia Familiar.
No que respeita à alcoologia, o serviço é assegurado pela Clínica Novo Rumo, que tem como trabalho base a desintoxicação e tratamentos dos indivíduos.
A Clínica Novo Rumo desenvolve um programa de desintoxicação e recuperação de doentes com dependência ou abuso de álcool. Trata-se de um programa estruturado, com duração de 4 semanas, num modelo biopsico-social e espiritual que se pretende integrador e que assume como referência o Programa Minnesota.[1]
A equipe multidisciplinar acolhe e íntegra o doente, assegura os cuidados médicos e de enfermagem, desde a desintoxicação até à alta e dinamiza um programa diversificado de reuniões psicopedagógicas, acompanhamento das famílias, treino de assertividade e de relaxamento, educação física, avaliação e acompanhamento psicoterapêutico.
Na consulta externa é feita a triagem dos doentes, para tratamento em ambulatório ou em internamento, de acordo com critérios precisos, nomeadamente:

·         Fracasso de uma ou várias desintoxicações ambulatórias recentes;
·         Dependência do álcool grave com previsão de sintomas de privação complicados;
·         Psicologia psiquiátrica associada, em particular à depressão e risco de suicídio;
·         Adição medicamentosa;
·         Isolamento social;
·         Inexistência de estrutura familiar de suporte;
·         Ambiente familiar conflituoso;
·         Reconhecimento do doente de que não será capaz de parar o consumo em ambulatório “sozinho”.

São também claros os objectivos do tratamento, designadamente:

·         Ajudar a pessoa a iniciar e a manter, a longo prazo, a abstinência total do álcool;
·         Favorecer a melhoria da qualidade de vida;
·         Reabilitação física, metal, familiar, profissional e social.

Quanto ao perfil dos indivíduos que são internados nesta unidade, e com base num estudo realizado entre Julho de 2003 e Junho de 2004 (360 dias), em 128 doentes, são os seguintes:


 Fonte: Revista Hospitalidade, Ano 70, nº 272, Abril – Junho 2006


Fonte: Revista Hospitalidade, Ano 70, nº 272, Abril – Junho 2006

Fonte: Revista Hospitalidade, Ano 70, nº 272, Abril – Junho 2006


Fonte: Revista Hospitalidade, Ano 70, nº 272, Abril – Junho 2006

Fonte: Revista Hospitalidade, Ano 70, nº 272, Abril – Junho 2006


Este estudo confirma um pouco que a eficácia do programa de tratamento da Clínica Novo Rumo está dentro dos valores encontrados noutros estudos e noutros centros.






[1] Este programa nasceu para o tratamento do alcoolismo, sendo posteriormente aplicado à problemática da droga e estando nos últimos anos a ser usado para o tratamento de todos os comportamentos compulsivos, desviantes e destrutivos. Este programa assenta numa base espiritual forte e uma metodologia própria que permite à pessoa reencontrar-se, assumir e arriscar numa mudança global. Este programa assenta em três características base, 1) Princípios – É humano, holístico e flexível e assenta nas seguintes premissas: Tratar os dependentes químicos com dignidade e respeito, tratar as pessoas na sua totalidade: corpo, mente e espírito; 2) Considera a Adição – Uma doença primária e crónica (tratável, mas não curável), a doença é bio-psico-social e espiritual; 3) Tratamento – Baseia-se nos doze passos de alcoólicos anónimos (AA), exige a abstinência total e vitalícia dos produtos químicos, há um continuo terapêutico (diagnóstico, tratamento, acompanhamento, apoio familiar, etc.), é pragmático na abordagem psicoterapêutica.

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