De uma forma sintética e identificando as diferentes variantes da produção sociológica em Portugal e a melhor prática dessa produção nos últimos anos, eu diria que os benefícios que a institucionalização tardia da sociologia em Portugal teve as seguintes vantagens:
1. A abertura interdisciplinar do trabalho sociológico,
2. A tendência para a auto reflexividade epistemológica e metodológica,
3. O ajustamento entre dimensão teórica e dimensão empírica do social,
4. Pluralismo teórico e metodológico, aliado à rejeição de orientações paradigmáticas exclusivistas,
5. A combinação de metodologias quantitativas e qualitativas,
6. A articulação de diferentes níveis de análise, macro, micro, global e local,
7. O interesse por estudos inovadores e de “fronteira”,
8. A combinação equilibrada entre a investigação fundamental, a investigação aplicada e a intervenção profissional.
Todos estes traços não significa outra coisa senão reconhecer que, à partida, as condições se apresentavam favoráveis ao desenvolvimento de uma sociologia inovadora e de qualidade, e não envolve qualquer juízo de valor em relação ao modo como essas condições foram aproveitadas.
Importa salientar que os contextos mutáveis em que se desenvolveu o trabalho sociológico, se encarregou de reduzir, nuns casos, e aumentar noutros, as vantagens comparativas de que os sociólogos portugueses gozavam à partida.
Boaventura Sousa Santos, a propósito da década de 80, afirma que o contexto sociotemporal, acabou por ser desastroso para a sociologia, por esta não ser capaz de acompanhar as rápidas transformações que estavam a ocorrer, nem evitar que o trabalho sociológico se orientasse, paradoxalmente, noutras direcções. Isto resultou, que devido a certas conjunturas da história portuguesa recente, se abrandasse a vigilância crítica em relação ao poder instituído de que se falou atrás.
Cito Boaventura Sousa Santos, “A tradição sociológica portuguesa tem alguma especificidade. Dominou durante muito tempo uma postura crítica. Em dois momentos, porém, muito diferentes entre si, o compromisso orgânico pretendeu tomar a dianteira: o primeiro foi durante a crise revolucionária do 25 de Abril, o segundo, nos últimos quatro anos, em resultado de uma certa modernização e também de uma certa governamentalização das práticas sociais e institucionais, ambas impulsionadas pela integração de Portugal na CEE”. E conclui: “Os desafios que nos são colocados exigem de nós que saiamos deste pêndulo. Nem guiar nem servir. Em vez de distância crítica, proximidade crítica. Em vez de compromisso orgânico, o envolvimento livre. Uma objectividade feita de independência, e não de neutralidade”.
Finalmente e voltando ainda ao tardio surgimento da sociologia em Portugal e a sua relativa marginalidade em face aos principais centros de produção do conhecimento sociológico, importa realçar a posição defendida em 1988, pelo então Presidente da Associação Portuguesa de Sociologia, João Ferreira de Almeida: “Sou dos que não consideram forçosamente negativos todos os efeitos da nossa relativa marginalidade (…). É certo que a periferia tende a ser candidata a colonização e, no caso que agora nos interessa, através da importação acrítica de modelos nem sempre adequados ao trabalho local; mas a situação comporta, também, virtualidades que interessa ter em conta e aproveitar. A sociologia que se faz em Portugal pode, com efeito, recolher influxos variados que activamente procure e seleccione, quer os provenientes dos espaços já referidos, quer os que têm origem noutras fontes e noutras regiões. As grandes áreas linguísticas e culturais padecem geralmente de algum isolamento, apesar e por causa da sua dimensão e da sua preponderância. A nossa pequenez, em contrapartida, obriga-nos à extroversão; todo o problema reside em aproveitar sem exclusões apriorísticas os contributos exteriores avaliados como mais positivos”.
Adaptado de um artigo de Pedro Hespanha "Os custos e os Benefícios da Institucionalização tardia da Sociologia em Portugal" de Outubro de 1996
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